quarta-feira, 21 de novembro de 2012

VIII EnconASA - Agricultores nordestinos vão conhecer experiências mineiras de convivência com o Semiárido



Acesso à água, acesso à terra, soberania e segurança alimentar, casas de sementes e auto-organização das mulheres estão entre os dez temas que farão parte da programação do VIII Encontro Nacional da ASA (EnconASA), que começa no dia 19 e vai até 23 de novembro, em Januária, na região norte de Minas Gerais.
Durante o EnconASA, os agricultores nordestinos e mineiros poderão conhecer de perto experiências que vêm mudando a vida das pessoas que moram no Semiárido mineiro.

No terceiro dia do encontro (21/11), os participantes se dividirão em grupos para visitar 21 comunidades locais. Essas experiências demonstram qual é o modelo de desenvolvimento que a ASA considera ideal para o Semiárido brasileiro, no qual privilegia o conhecimento das pessoas que vivem na região e como ele pode
influenciar na transformação cultural e política, levando à formação de uma consciência crítica, à organização de grupos, à participação política e a conquista da cidadania.

Saiba um pouco mais sobre as visitas às experiências, que farão parte deste VIII EnconASA

Visitas temáticas:
Água
Revitalização do Rio dos Cochos – O rio dos Cochos nasce no município de Cônego Marinho, na comunidade Cabeceira dos Cochos, Norte de Minas Gerais. Percorre 8 comunidades rurais de Januária até chegar no Ipuera e finalmente cair no Rio São Francisco, passando pela vida de cerca de 300 famílias, em sua maioria agricultores e agricultoras familiares. A vida dessas famílias sempre giraram em torno desse rio. Porém, de 30 anos para cá, ele começou a perder força. O rio estava desaparecendo, porque o governo federal, por meio de incentivos fiscais, ofereceu para grandes empresas concessões para plantação da monocultura de eucalipto. O povo se iludiu com a ideia do progresso. Aconteceram grandes desmatamentos, inclusive, nas cabeceiras dos rios. Em pouco tempo, o rio estava assoreado, o que causou grandes impactos nas comunidades e na vida do povo. Foi aí que depois de identificar o problema, o povo do lugar começou a se mobilizar para a revitalização do rio. Com ações de conscientização, preservação da mata ciliar, realização de intercâmbios, seminários, cavalgadas ecológicas.
Projeto Jaíba - Na margem direita do Rio São Francisco, abrangendo os municípios mineiros de Matias Cardoso e Jaíba, funciona o maior projeto público de irrigação em área contínua da América Latina – o Projeto
Jaíba. A propaganda do projeto Jaíba garante que a iniciativa gera desenvolvimento regional, assim como acontece na divulgação dos grandes empreendimentos de agro e hidronegócios, como a transposição do Rio São Francisco. Por conta disto, participar deste projeto pode ser um sonho para muitos agricultores. Mas, as coisas não são bem assim, como afirmam as próprias famílias locais que viram seu sonho tornar-se ilusão:
“No Projeto Jaíba, o grande problema é a água”. “Aqui, a água tem um preço”, diz um agricultor do projeto. “E é cara”, complementa o diretor do sindicato dos trabalhadores rurais do município. Segundo informações do Distrito de Administração do Projeto Jaíba, mais de 36 mil hectares, cerca de 80% da área estruturada para irrigação, está sob domínio de médios e grandes empresários, vários estrangeiros.
Terra e Território
Povo indígena Xakriabá – É a maior população remanescente de Minas Gerais. Vivem em 34 aldeias do município de São João das Missões. Ao todo, são 10 mil indígenas. A aldeia mais próxima do município de
Januária se chama Morro Vermelho, sendo que essa está fora da reserva indígena. A luta deles é para que seja reintegrada. A área de 46.414 hectares foi demarcada em 1979. Porém, foi reduzida para menos de um terço a área original da reserva. O território sofreu desmatamentos dos fazendeiros para a pecuária.
Povo Quilombola Brejo dos Crioulos – O quilombo pertence à área rural dos municípios de Varzelândia, Verdelândia e São José da Ponte, no norte de Minas Gerais. O povo deste quilombo conta história de
superação do preconceito e da luta por direitos. Animados pela retomada de seu território com a ocupação vitoriosa da comunidade Caxambú, em 2004, a associação dos quilombolas adotou a estratégia de realizar manifestações aonde o processo judicial chegasse, pressionando o poder público a dar agilidade às tramitações. No ano passado realizaram manifestação em Brasília (DF), e conseguiram da presidenta Dilma a
assinatura de um decreto ordenando a retomada do território.
Povo Vazanteiro Ilha do Pau Preto - Ilha do Pau Preto, onde a população de vazanteiros produzem feijão, abóbora e quiabo, em uma terra onde avaliam como a melhor para se plantar, já que toda a matéria orgânica está depositada ali. O público do EnconASA poderá conferir de perto uma experiência do povo que
conhece o tempo da vazante e as espécies de peixe em extinção.
Sementes
Casa Regional de Sementes – A Casa de Sementes Regional é uma iniciativa do Centro de Agricultura Alternativa do Norte de Minas Gerais (CAA), juntamente com os sindicatos de trabalhadores rurais (STRs), associações comunitárias, Cáritas e instituições de pesquisa. A casa foi inaugurada em julho de 2009. Com foco na conservação da agrobiodiversidade, surgiu a proposta de construir uma casa para armazenamento e conservação das sementes locais dos agricultores familiares do Norte de Minas, além de ser um espaço de formação com as famílias envolvidas.
Comunidade Barra do Tamboril - Em uma região do cerrado com lindas nascentes naturais, fica a Comunidade de Barra do Tamboril. As famílias de lá reconheceram o valor da biodiversidade do lugar onde moram e vem preservando-a cada vez mais. A comunidade está localizada nas margens dos rios Tamboril e Pardo, fazendo parte do município de Januária. Preservar a biodiversidade, usar semente tradicional e utilizar práticas de cultivo livre de agrotóxico com a intenção de garantir a saúde da terra, da água, dos animais
e dos seres humanos é a missão do grupo da casa de semente da Barra do Tamboril.
Educação do/no campo
Escola Indígena – A publicação da constituição de 1988, que garantiu o direito a uma educação diferenciada aos Povos Indígenas, reforçou a luta do Povo Xakriabá pela implantação de um projeto de educação indígena no estado de Minas Gerais. Após muitos debates com o governo estadual, em 1995, o projeto foi implantado e já em 1996 é formada a primeira turma de magistério indígena a fim de capacitar os indígenas para assumirem a função de professores. Em 2005 conseguiram inserir esses professores na universidade
pública. Todo o projeto pedagógico é desenvolvido pelos professores, pedagogos e pela comunidade.
Escola Família Agrícola (EFA) Tabocal – Localizada no Norte de Minas Gerais, a escola de ensino médio profissionalizante é a única EFA da região. Numa região com empresas monocultoras de soja à base de muito agrotóxico, os técnicos formados pela EFA, cheios de vontade de trabalhar, são seduzidos pelas ofertas de
emprego formal. A EFA estimula a capacidade empreendedora do jovem para que ele crie seu próprio negócio na propriedade da família, mas esbarra nas políticas de crédito para a juventude e assistência
técnicas ainda pouco acessíveis.

Soberania e Segurança Alimentar
Comunidade João Congo – Esta experiência mostra a transformação social e de qualidade de vida da comunidade João Congo, em Varzelândia, no Sertão Norte mineiro. Por falta de uma alimentação saudável,
a comunidade alcançou um alto índice de mortalidade infantil. Para enfrentar o problema, os moradores da comunidade se articularam para buscar meios de garantir a soberania alimentar e nutricional da comunidade. Através de projetos em parceria com a Cáritas Regional Minas Gerais e com a Coordenadoria Ecumênica
de Serviço (CESE) e a Pastoral da Criança, a comunidade se organizou, reforçou sua produção e aprendeu a diversificar e aproveitar os alimentos, variando suas refeições.
Assentamento
São Francisco II - 
O
Assentamento de reforma agrária São Francisco II fica cerca de 16 quilômetros da sede do município de São Francisco, no norte de Minas Gerais. Situado às margens do rio São Francisco, o assentamento, vem demonstrando que a reforma agrária ainda permanece como uma forma de resistência e estratégia para soberania e segurança alimentar e nutricional. Apesar das dificuldades para conseguir a terra e da falta de apoio do INCRA que até hoje não liberou nenhum crédito de instalação, os assentados encontraram na organização e no trabalho coletivo a grande saída para garantir a produção de alimentos e também dar continuidade as lutas em busca dos reconhecimento dos direitos.
Comunicação
Popular
Ponto de Cultura Xacriabá –O Ponto de Cultura LOAS mostra como a maior nação indígena do Estado de Minas Gerais construiu estratégias de preservação e visibilidade cultural, tendo como apoio instrumentos de comunicação. Jornais, vídeos, fotografias, livros feitos com capa de papelão são alguns dos produtos, que auxiliam o povo a tornar conhecida as suas raízes e sua vida, para o público de dentro e de fora. A Casa de
Cultura é o espaço da memória, exposição e interação das diferentes manifestações culturais deste povo. E são muitas: a produção dos remédios caseiros nas Casas de Medicina, o artesanato com a palha do buriti, com o barro e a madeira, as brincadeiras e cantigas antigas.
Rádio Comunitária – João Congo – A Rádio A Voz do Agricultor nasceu a partir de um programa de estímulo à comunicação comunitária desenvolvido pela Cáritas Regional Minas Gerais em quatro comunidades da cidade de Varzelândia, no Norte de Minas. A mobilidade da rádio proporcionou que esta experiência pudesse dar frutos em vários lugares pelo município de Varzelândia. Ela foi instalada inicialmente no Assentamento Betânia e despertou na comunidade a união e o interesse pela difusão do conhecimento. Daí, ela foi para a sede do Sindicato dos Trabalhadores Assalariados de Varzelândia, onde sofreu com a perseguição da fiscalização da ANATEL, mas contribuiu muito com a divulgação das lutas para os agricultores.
Auto-organização
das Mulheres
Mulheres em Luta – Esta é a história de um grupo de mulheres que, através das habilidades manuais para bordado, artesanato, fabricação de produtos de limpeza e culinária, conseguiram abrir portas nas suas vidas para importantes conquistas: independência financeira dos maridos, liberdade para ter uma vida social além da doméstica, apoio à continuidade dos estudos dos filhos e superação de doenças crônicas, como a depressão e o alcoolismo. O grupo do município de São Francisco, em Minas, reativou a associação municipal que organiza a feira local.
Grupo Mulheres Mãos com Arte – Vivem nas comunidades rurais de Barra do Pequi, Mangal e Calengue, todas do município de Chapada Gaúcha, a 140 km de Januária. A auto-organização destas mulheres
garantiu a autonomia financeira dentro de casa e transformou toda comunidade. Elas falam que, nas reuniões de bordado, começaram a levantar os problemas da comunidade e buscar soluções.
Acesso
a Mercados e Economia Popular Solidária (EPS)
Feira Livre – São Francisco - A feira livre do município teve inicio no ano de 2003. Os agricultores, agricultoras e artesãos do campo e da cidade tinham bastante dificuldade de vender sua produção, que é abundante. Na tentativa de superar esses desafios, as famílias organizaram a feira livre. Com a feira, os produtos se transformaram em uma fonte de renda para as famílias.
Entreposto – Rio dos Cochos - O entreposto de beneficiamento de Pequi é uma iniciativa de 25 mulheres da comunidade de Sambaíba, que fica a 40 km do município de Januária, no Norte de Minas Gerais. O entreposto faz parte do projeto de revitalização do Rio dos Cochos. Essa foi a solução criada para reverter os impactos gerados pelas empresas de plantio de Eucalipto que assoreou o rio e desmontou o sistema tradicional de vida destas famílias.
Cooperativa Grande Sertão – A Cooperativa de Agricultores Familiares Agroextrativistas Grande Sertão é uma
importante experiência do Semiárido mineiro de geração de renda para as famílias agricultoras. A cooperativa existe há noves anos e hoje atua em dezenas de municípios e centenas de comunidades rurais.
Política
de ATER (construção de conhecimento)
P1+2 – Comunidade Cabeceira de Cônego Marinho - Inicialmente desorganizados, os moradores da comunidade Cabeceira do Cônego Marinho, no Norte de Minas, tiveram más experiências com assessoria técnica. Com orientações que vinham de cima para baixo e sem levar em conta a realidade da comunidade, o acompanhamento rendeu desgosto, frustrações e algumas dívidas para as famílias agricultoras. Aos poucos, eles aprenderam a importância da organização comunitária e da busca pela construção do conhecimento técnico através de assessorias participativas. Hoje, a comunidade é participativa, organizada e capaz de gerenciar projetos para o seu desenvolvimento coletivo. Sabem exatamente onde buscar as parcerias para isso. Prova disso é o sucesso do Programa Uma Terra e Duas Águas- P1+2, da ASA, que a própria comunidade buscou.
Comunidade Pau do Óleo - A Associação Comunitária de Pau D’óleo fica na comunidade de mesmo nome, no município de Januária, e é prova de que a união do saber popular com o conhecimento técnico é uma fórmula poderosa para o desenvolvimento comunitário e social. O conhecimento dos moradores sobre sua cultura e necessidades, assim como a partilha destes conhecimentos, tem feito com que bons frutos surjam ao longo de seus 20 anos de história. A experiência de seu Tião mostra como a experimentação e a troca de experiências fora e dentro da comunidade, juntamente a uma assessoria técnica com participação da comunidade e que comungue com a realidade local, podem proporcionar a uma família seu protagonismo e desenvolvimento.

Financiamento/Créditos
e Fundos Solidários
Comunidade Tejuco - A comunidade de Tejuco, localizada na cidade de Januária, a 81 km da sede, nasceu da devoção religiosa a São José. A partilha e a solidariedade são marcas fortes da comunidade. Em 2004, as famílias perceberam que era preciso se organizar para buscar melhorias na infraestrutura, produção de alimentos e geração de renda. Perceberam que sozinhos tinham menos força do que juntos. De todos os cursos e visitas que fizeram, viram uma oportunidade na produção de biscoitos. As mulheres elaboraram projeto para o Fundo Nacional de Solidariedade. Com o recurso, adquiriram fornos, batedeiras, liquidificadores, vasilhas, pia e mesa. Do biscoito que fazem, tiram uma parte para a família consumir, e  outra é vendida na feira. Buscando melhorar as condições de produção, os agricultores ampliaram suas formas de financiamento, como o projeto Seriema, com o fundo rotativo solidário e o PRONAF.

Mais
informações:

Serviço:
Evento
VIII EnconASA – Visitas às experiências
Dias:
21/11/2012, manhã e tarde
Local:
saída do SESC de Januária (MG)

Programação
completa do VIII EnconASA:

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