terça-feira, 25 de outubro de 2011

“O Veneno está na Mesa”: Uma luta contra os agrotóxicos e o agronegócio

A exibição do documentário “O Veneno está na mesa”, do cineasta Silvio Tendler, reuniu cerca de 240 pessoas no salão nobre da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), na última quinta-feira, 20 de outubro. Estudantes, professores/as e agricultores/as puderam acompanhar a trajetória e os danos causados pelo uso dos agrotóxicos e como ele se relaciona à lógica do agronegócio. 

Documentário atraiu professores/as, estudantes e agricultores/as
O filme, produzido para a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vidadesde seu lançamento em julho, está circulando em diversos estados do Brasil, geralmente acompanhado pela diretor. A ideia é levar à população os perigos do uso dos insumos químicos com o propósito de estimular o debate em torno dessa questão, na perspectiva de combater o uso dos agrotóxicos e defender uma forma de produção agroecológica.
 
 “Desde 2008, o Brasil é o país do mundo que mais consome agrotóxicos”, destaca o documentário logo no início de sua exibição. Denunciando as formas de produção em massa que se utilizam dos defensivos químicos, degradando o meio ambiente e prejudicando a saúde da população, o filme do cineasta carioca, na noite da quinta-feira (20), levantou reflexões e discutiu a temática, trazendo à tona, principalmente, o papel da sociedade e do poder público no combate ao uso dos agrotóxicos.

Após a exibição do documentário de 50 minutos, montou-se uma mesa de debate com representantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, como o líder do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, a Presidenta da Associação das Agricultoras e Agricultores do Assentamento Chico Mendes III - São Lourenço da Mata/PE, Enilda da Silva, e do professor do Núcleo de Agroecologia e Campesinato (NAC/UFRPE) e presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA Agroecologia), Francisco Roberto Caporal. Silvio Tendler, que até então estaria presente, por motivos de saúde não pôde compor o momento. No debate, além da discussão em cima do extermínio do uso indiscriminado dos agrotóxicos, foram apresentados dados alarmantes sobre a atuação da agricultura paternal e como o país precisa avançar no sentido de minimizar os avanços desse modelo de produção que só visa o lucro. 
Da esq. para a dir.: Jaime Amorim, Enilda da Silva e Francisco Caporal.
Um dos pontos em questão foi o fato de no Brasil não existir uma política forte pra barrar esse tipo de produto na agricultura. “Enquanto nos Estados Unidos são necessários em torno de 250 mil dólares para registrar um principio ativo, no Brasil esse valor gira em torno de 33 a 100 dólares”, contemplou o professor Francisco. Assim, a importância da intervenção do governo e da atuação constante da sociedade aparece como cernes para a continuidade do debate.   
  
Incentivar a agricultura familiar e o consumo de produtos orgânicos ecoou de forma constante na fala dos participantes. Progressivamente, os debates estão aparecendo pelos estados e a luta por uma forma mais justa e saudável de produção poderá ser vislumbrada e contemplada no país. Quem sai ganhando? O Brasil e todos os produtores e consumidores dos produtos da agricultura familiar que abastecem a mesa dos brasileiros todos os dias, girando uma economia e fortalecendo a lógica agroecológica e sustentável do processo agrícola.    

Viva a agricultura Familiar

O Veneno está na Mesa faz uma chamada para a luta contra o agronegócio e destaca a importância do estímulo à agricultura familiar. Através das construções de políticas pelos poderes públicos alinhadas aos movimentos da sociedade, esses avanços começam a surgir. A importância do cultivo de uma agricultura saudável, livre do uso dos agrotóxicos, para um país que possui 70% da mesa composto pelos produtos da agricultura familiar, torna-se essencial para esse debate. Nesse sentido, Silvio Tendler esteve em Pernambuco no mês de outubro, e, através da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (FETAPE) pôde conhecer algumas famílias agricultoras da Zona da Mata pernambucana. Para o cineasta, esse momento servirá para a coleta de informações sobre a realidade de trabalhadores rurais no estado que irão subsidiar, em um futuro próximo, um novo documentário, dando continuidade ao debate nos país.  

Arméle Dornelas 
Comunicadora Popular da Cáritas Diocesna de Pesqueira e membro do núcleo de comunicação da ASA/PE

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O que você come?

Agricultores familiares trazem a importância de se combater o uso dos agrotóxicos e, consequentemente, estimular a alimentação de qualidade. 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Sociedade civil e poder público debatem a Segurança Alimentar e Nutricional em Pernambuco

“Alimentação como direito social”, com essa afirmação, o presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar de Pernambuco (CONSEA/PE), Nathanael Valle, deu inicio a IV Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional realizada entre os dias 28 e 30 de setembro em Pesqueira, no interior pernambucano. O encontro traçou as diretrizes para as políticas nesse setor no estado ao mesmo tempo em que debateu as contribuições das organizações da sociedade civil e dos poderes públicos municipais e estadual para integrarem as políticas nacionais neste segmento, contribuindo para os avanços sociais no país.

Integrantes da Articulação no Semi-Árido Pernambucano (ASA/PE) participaram da Conferência ao lado de representantes do governo federal, estadual e municipais e de diversas outras organizações da sociedade civil organizada. A diversidade étnica também compôs o público presente, incorporada pelos povos quilombolas, afrodescendentes e índios. No primeiro dia de evento, o grupo pôde discutir o regimento interno estadual das políticas da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), assim como aprová-lo. No mesmo dia, o diretor do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Marcos Dal Fabbro, apresentou o histórico das políticas da SAN nacional, apontou suas perspectivas e desafios e afirmou a importância da Conferencia Estadual para o complemento do Plano Plurianual e de como essas ações podem contribuir pra o extermínio da extrema pobreza no Brasil.  
segundo dia da Conferencia foi intenso e marcado pelo compartilhamento das ações, no que tange a segurança alimentar e nutricional, desenvolvidas nos  município e pelo governo estadual, assim como as dificuldades encontradas para esse trabalho. Representantes dos Conselhos Municipais de Segurança Alimentar participaram da mesa de debate. O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) nas cidades pernambucanas foram bastante citados, assim como as feiras agroecológicas, as cozinhas e hortas comunitárias e a higienização dos alimentos da merenda escolar. Enfatizou-se ainda a necessidade do fortalecimento dos Conselhos em cada município e o maior envolvimento do poder público para que os avanços aconteçam unidos a um controle social para a fiscalização das atividades vigentes.

O secretário executivo de Agricultura Familiar, Aldo Santos, e a superintendente de Segurança Alimentar da secretaria de Desenvolvimento Social, Mariana Suassuna, explanaram sobre a atuação do governo estadual nesse campo. Diversos programas e projetos foram citados, entre eles o Programa Mãe Coruja, que busca combater à mortalidade infantil, o Programa de Segurança Alimentar, Nutricional e Produtiva nos acampamentos e pré-assentamentos da Reforma Agrária, o Garantia Safra e O Programa Estadual de Apoio ao Pequeno Produtor Rural (PRORURAL), que tem parceria com organizações que compõem a ASA/PE, assim como o recente programa “Pernambuco mais Produtivo”, que apóia a agricultura familiar e leva tecnologias de armazenamento da água das chuvas para os trabalhadores rurais do interior do estado com o apoio das entidades que fazem parte da rede da Articulação.     

Ainda no dia 29, a nutricionista e professora da Universidade Federal de Pernambuco, Sônia Lucena, ministrou uma palestra enfocando o papel da sociedade e do governo para os avanços da segurança alimentar e nutricional no estado e seu envolvimento com a saúde pública. “Existe uma carência grande em Pernambuco no que diz respeito à obesidade, o sobrepeso e a desnutrição. Esses são pontos que também precisam ser trabalhados e combatidos dentro dos planos, são os eixos que norteiam a SAN”, fala a nutricionista.  

Encerrando o segundo dia de evento, os participantes foram divididos em quatro grupos de acordo com suas regiões: Sertão, Agreste, Zona da Mata e região metropolitana. Nessa atividade, os presentes puderam discutir propostas de ações para comporem o Plano Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do estado e as apresentaram ao grande coletivo no último dia de Conferencia. Colocou-se a necessidade de se proteger os recursos hídricos para a produção de alimentos saudáveis, o fortalecimento da agricultura familiar, a garantia do acesso à terra, o incentivo a conduta agroecológica, o combate ao uso dos agrotóxicos, a importância de se conhecer a realidade de cada população garantindo um alimentação adequada, dentre outros posicionamentos.
O fechamento da Conferência contou com a escolha dos representantes de Pernambuco para a IV Conferencia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, prevista para o mês de novembro em Salvador. Serão 26 delegados pernambucanos da sociedade civil organizada, dentre eles o coordenador do Programa Uma Terra e Duas Águas da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA Brasil) na ONG Chapada, no sertão do Araripe, Edésio Medeiros, e o coordenador de articulação política do Centro Sabiá, organização também pertencente a rede ASA, Adeildo Fernandes. “Para a construção do primeiro Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Pernambuco apresentará recomendações que foram frutos das 26 conferencias municipais realizadas em todo o estado com a participação ativa da sociedade civil, tendo como foco construir compromissos para efetivar o direito humano a alimentação adequada e saudável” afirma Edésio.

Os três dias de evento resultaram em discussões e no levantamento das necessidades e propostas dos municípios pernambucanos. A partir desse momento, as políticas da SAN entram mais uma vez em pauta e vislumbram melhorias e avanços no estado e no Brasil. Agora, espera-se que a Alimentação Saudável como direito de todos ganhe relevância e propostas concretas, começando pela próxima Conferencia Nacional que reunirá idéias de diversos estados brasileiros, incluindo as questões levantadas em Pernambuco. “Esse é um passo enorme para as coisas começarem a acontecer”, comenta Nathanael Valle encerrando a IV Conferência Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional. 

Arméle Dornelas
Comunicadora Popular da Cáritas Diocesana de Pesqueira e membro do núcleo de comunicação da ASA PE