Situada numa
privilegiada área de brejo de altitude, contrastando com a caatinga encontrada no
interior das regiões semiáridas, a etnia Xukuru, localizada em
Pesqueira, a 215 km de Recife, com uma totalidade de 26 aldeias, vive na Serra
do Ororubá, numa área que pode alcançar até mil metros de altitude, sendo uma
área privilegiada pela vegetação, solo rico, clima agradável e presença de cursos d’água, que inclusive abastecem todo o
município. Porém diante da estiagem em que vivemos até a etnia Xukuru tem
sofrido com a falta de água, pois alguns aquíferos secaram por quase
completamente devido à alta demanda de água, uma vez que a reserva indígena tem
suprido água para o município de Pesqueira. Dentre os aquíferos da reserva
indígena estão a barragem de Pedra D’água, Pão-de-Açúcar e da Retomada.
Diante
desta realidade, a etnia Xukuru adotou no projeto político pedagógico das
escolas este ano um tema em prol da água, cujo lema é “Praticando
o bem viver, através da educação, da preservação e conservação das águas que são
morada dos nossos encantados”, que tem como base a frase do cacique Xikão
Xukuru: “As águas são o sangue da terra”, sendo este assassinado em 1988 devido
aos conflitos pela terra indígena.
Açude da Aldeia Santana |
A educação Xukuru tem o
direcionamento do Conselho de Professores/as Xukuru – O COPIXO, que procura
manter a linha de uma educação contextualizada, e conta com aproximadamente 130
professores e professoras. “Esse ano foi desenvolvido um projeto para ser trabalhado
nas escolas a fim de falar exclusivamente da água, principalmente nesta época,
em que nossa região é uma das mais castigadas pela escassez. O projeto visa
principalmente a qualidade do ensino, da aprendizagem, realmente levar para os
alunos o que eles precisam saber, não só agora, que está faltando a água, mas
antes cuidar como armazenar, a importância de fato para todos nós”, disse Alane
Arcoverde, professora de ensino fundamental da Escola Santa Águeda, na Aldeia
Caípe. “Então nós estamos trabalhando nas escolas mais na prática, é com
visitas nas nascentes, é como preservar, como reutilizar o lixo, como isso pode
influenciar de forma positiva na preservação do meio ambiente de um modo geral.
A água pra nós é sagrada, tem os encantos. A água é vida pra nós. Na aldeia
onde eu trabalho, Caípe, a barragem que tinha perto da escola agora está seca.
Então nós observamos, levamos os alunos lá”, reforçou a professora no intuito de
colocar em prática os ensinamentos transmitidos aos alunos.
Como
bons cuidadores da natureza os Xukuru proíbem banhos e outras práticas que possam
contaminar os seus reservatórios de água. “Diante desta seca, que
foi uma das maiores que eu já vi e até os mais velhos tem falado, como o poço
que atende a aldeia Santana secou, nós fizemos uma reunião com a comunidade e
decidimos buscar água no poço de um morador. Antes de racionar, nós tínhamos
água em abundância, e durante esta seca as águas foram baixando”, disse José
Rosinaldo, agente de saneamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI
e responsável pelo reservatório de água da Aldeia Santana. “Se nós tivéssemos
racionado antes talvez não tivesse essa seca que está hoje”, lembrou José
Rosinaldo, que todos os dias bombeia água de um poço para distribuição em 27
residências.
A igreja também tem
apoiado a questão da economia de água entre os Xukuru. “Nós, da igreja fazemos
um trabalho de conscientização nas paróquias, tipo, dando dicas para os nossos
paroquianos para o não desperdício de água e sempre haja reutilização da água,
não gastar água lavando calçadas, carros, animais, mas tendo cuidado no
desperdício. Nós como índios temos como política reutilizar a água”, disse
Maurício Freire, vocacionado da Congregação Camiliana e índio da aldeia
Santana.
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