quinta-feira, 21 de março de 2013

Etnia Xukuru do Ororubá celebra Semana da Água com projeto nas escolas indígenas



Situada numa privilegiada área de brejo de altitude, contrastando com a caatinga encontrada no interior das regiões semiáridas, a etnia Xukuru, localizada em Pesqueira, a 215 km de Recife, com uma totalidade de 26 aldeias, vive na Serra do Ororubá, numa área que pode alcançar até mil metros de altitude, sendo uma área privilegiada pela vegetação, solo rico, clima agradável e presença de cursos d’água, que inclusive abastecem todo o município. Porém diante da estiagem em que vivemos até a etnia Xukuru tem sofrido com a falta de água, pois alguns aquíferos secaram por quase completamente devido à alta demanda de água, uma vez que a reserva indígena tem suprido água para o município de Pesqueira. Dentre os aquíferos da reserva indígena estão a barragem de Pedra D’água, Pão-de-Açúcar e da Retomada.

Diante desta realidade, a etnia Xukuru adotou no projeto político pedagógico das escolas este ano um tema em prol da água, cujo lema é “Praticando o bem viver, através da educação, da preservação e conservação das águas que são morada dos nossos encantados”, que tem como base a frase do cacique Xikão Xukuru: “As águas são o sangue da terra”, sendo este assassinado em 1988 devido aos conflitos pela terra indígena. 
Açude da Aldeia Santana
A educação Xukuru tem o direcionamento do Conselho de Professores/as Xukuru – O COPIXO, que procura manter a linha de uma educação contextualizada, e conta com aproximadamente 130 professores e professoras. “Esse ano foi desenvolvido um projeto para ser trabalhado nas escolas a fim de falar exclusivamente da água, principalmente nesta época, em que nossa região é uma das mais castigadas pela escassez. O projeto visa principalmente a qualidade do ensino, da aprendizagem, realmente levar para os alunos o que eles precisam saber, não só agora, que está faltando a água, mas antes cuidar como armazenar, a importância de fato para todos nós”, disse Alane Arcoverde, professora de ensino fundamental da Escola Santa Águeda, na Aldeia Caípe. “Então nós estamos trabalhando nas escolas mais na prática, é com visitas nas nascentes, é como preservar, como reutilizar o lixo, como isso pode influenciar de forma positiva na preservação do meio ambiente de um modo geral. A água pra nós é sagrada, tem os encantos. A água é vida pra nós. Na aldeia onde eu trabalho, Caípe, a barragem que tinha perto da escola agora está seca. Então nós observamos, levamos os alunos lá”, reforçou a professora no intuito de colocar em prática os ensinamentos transmitidos aos alunos.

Como bons cuidadores da natureza os Xukuru proíbem banhos e outras práticas que possam contaminar os seus reservatórios de água. “Diante desta seca, que foi uma das maiores que eu já vi e até os mais velhos tem falado, como o poço que atende a aldeia Santana secou, nós fizemos uma reunião com a comunidade e decidimos buscar água no poço de um morador. Antes de racionar, nós tínhamos água em abundância, e durante esta seca as águas foram baixando”, disse José Rosinaldo, agente de saneamento da Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI e responsável pelo reservatório de água da Aldeia Santana. “Se nós tivéssemos racionado antes talvez não tivesse essa seca que está hoje”, lembrou José Rosinaldo, que todos os dias bombeia água de um poço para distribuição em 27 residências.

A igreja também tem apoiado a questão da economia de água entre os Xukuru. “Nós, da igreja fazemos um trabalho de conscientização nas paróquias, tipo, dando dicas para os nossos paroquianos para o não desperdício de água e sempre haja reutilização da água, não gastar água lavando calçadas, carros, animais, mas tendo cuidado no desperdício. Nós como índios temos como política reutilizar a água”, disse Maurício Freire, vocacionado da Congregação Camiliana e índio da aldeia Santana.

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