“Ver para crer. Crer pra transformar-se. Transformar-se para conquistar dignidade vivendo no Semiárido.”
No segundo dia do II Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, mais de 300 pessoas - entre agricultores, técnicos das organizações sociais da ASA, representantes do governo federal e da imprensa – visitaram 12 experiências de convivência com o Semiárido nas regiões do Agreste e Sertão de PE. As experiências eram bastante diversas e abordaram desde a prática da agroecologia até a forma de organização do povo indígena Xukuru, natural de Pesqueira. Mais que a construção de um sólido semblante de conhecimentos, existiu a fortificação das motivações dos agricultores. Para o blog, trouxemos a visita ao sítio de Zé de Quitério, em Jataúba – PE.
Alcides Lima e e Geraílton Martins, agricultores da Paraíba |
Antes de chegar a Jataúba, Alcides Lima, agricultor de Fagundes na Paraíba, já sabia: “Vou conhecer uma nova experiência, aprender coisas novas e passar para frente meus conhecimentos”. O paraibano e mais 15 agricultores e agricultoras do NE brasileiro partiram do II Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, na cidade de Pesqueira, em direção ao município de Jataúba. A troca de conhecimentos envolvia as atividades agrícolas desenvolvidas no sítio de José de Quitério, personagem importante da agroecologia de Pernambuco.
Depois de três horas de viagem e expectativas em torno da experiência, o grupo chegou ao terreno, iniciando a troca de conhecimentos. Os participantes conheceram o canteiro econômico de Zé, que explicou como é seu trabalho em cima da horta, focando nas atitudes não prejudiciais ao meio ambiente e no aproveitamento da água, vinda da Cisterna calçadão, para a irrigação. Gerailton Martins, jovem agricultor, exaltou sua satisfação em conhecer um canteiro nos mesmos moldes que o seu. “A plantação de hortaliça é parecida com a minha, mas ele faz de uma forma mais prática. Aprendi muitos truques que eu não sabia. Ainda me surpreendi, pois também pude lhe dar algumas dicas”.
O grupo caracterizou-se pelos olhares atentos e perguntas contínuas. A curiosidade em cima de um trabalho tão parecido com o de todos estreitava os laços entre os agricultores, as agricultoras e Zé de Quitério, criando um clima de familiaridade e companheirismo. Cada um explanava como agia em cima dos mesmos procedimentos e a construção de um conhecimento coletivo era formado. Nesse mesmo ritmo, foi apresentada a tecnologia mais aguardada por muitos dos visitantes: o biodigestor. O processo de geração de biogás através do aproveitamento de estrume de vaca encantou a todos e gerou mais discussões e esclarecimento das dúvidas.
Zé de Quitério entrou no clima que envolvia todos ali presentes e mostrou bastante entusiasmo ao passar para todos os seus conhecimentos. Sua hospitalidade, sua visão sustentável e sua sensibilidade diante o intercâmbio iniciavam o processo de despedida aos visitantes. Mais do que a troca de informações técnicas, houve a percepção das dificuldades que cada um passou e de como conseguiram superá-las, tendo a certeza de que força de vontade não lhes faltava.
A volta foi marcada pela satisfação e a vontade de crescer. Alcides relata sua surpresa com o trabalho de Zé: “Eu nunca tinha visto uma plantação econômica como aquela, mas já esta tudo na minha cabeça e quando eu voltar para casa vou aplicar e passar para os outros companheiros da comunidade”. O experiente agricultor ainda reforçou a necessidade de se fortalecer essa corrente de conhecimentos, sua motivação se redobrou com o intercambio, assim como a de Gerailton, a de Zé de Quitério e a de todos os outros agricultores experimentadores presentes. “É preciso formar uma só corrente’, afirma Alcides.
Como agricultoras e agricultores experimentadores, os participantes não trocaram apenas informações de trabalhos, mas também formaram uma visão construtiva diante sua importância e suas potencialidades para o trabalho rural e a convivência com o Semiárido. Jataúba se despede de um grupo que tem nas mãos e nas mentes toda concepção de desenvolvimento de uma agroecologia e a importância dela ser passada adiante.
Arméle Dornelas
Comunicadora Popular
Cáritas Diocesana de Pesqueira
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